terça-feira, 24 de novembro de 2009

Vik Muniz

O nome de batismo está confinado à carteira de identidade. Ele não gosta de ser chamado de Vicente. Ficou famoso em Nova York pelo apelido: Vik. O sobrenome é bem brasileiro: Muniz. Paulistano de 39 anos, Vik Muniz levou sua assinatura para alguns dos mais importantes museus do mundo. A começar pelo Metropolitan Museum, onde sentiu o chamado da arte. Isso foi em 1986, três anos depois de chegar aos Estados Unidos. Hoje, suas obras fazem parte da coleção do respeitado museu americano. Vik ainda se surpreende de entrar para um clube onde reinam mestres como Rubens, o pintor barroco que o deixou impressionado naquela primeira visita. Ele ficou observando as diferentes reações das pessoas às obras do holandês. "Aquilo me deu vontade de ser artista".
Quinze anos depois, ao abrir a maior exposição da carreira —uma retrospectiva que começou pelo Museu de Arte Moderna do Rio, passa por São Paulo, em junho, e segue para Recife—, Vik também quer medir a reação do público brasileiro. "Tenho muito respeito pelo espectador. O artista faz 50%, quem vê a obra faz os outros 50%." Ele trabalha com materiais insólitos. Suas obras são esculpidas ou desenhadas em açúcar, chocolate, lixo e até poeira. Depois, são fotografadas. O que fica são as fotos, como a de Jacqueline Kennedy desenhada com ketchup. Ou a fotografia da "Última Ceia" em que cada cena foi construída com chocolate derramado sob uma base onde o artista fez o desenho.
Ele também trouxe para o Brasil as séries "Crianças de Açúcar" —com fotos de trabalhadores mirins das plantações de cana do Caribe que foram salpicadas de açúcar— e "Aftermath" —com montagens de fotos de crianças de rua contornadas com lixo de Carnaval como confetes e purpurina. "Não queria mostrar menino de rua como algo feio", diz ele.
Materias insólitos: chocolate na imagem sacra e pimenta para retratar Elisabeth Taylor. Vik usa materiais insólitos e se inspira em Andy Warhol.
Embora tenha passado pela Escola Panamericana de Arte, em São Paulo, Vik se considera um autodidata. Sua busca por novos materiais é incessante. "Essa terra eu tirei do estacionamento do meu prédio", aponta para uma das obras. A poeira de outra série de fotos foi o que sobrou da montagem de uma exposição em Nova York. Ele já usou e abusou de pimenta, algodão e geléia. Além do Metropolitan, suas fotos fazem parte do acervo do Whitney Museum, que até pouco tempo só aceitava norte-americanos, e do Reina Sofia, importante museu da Espanha. "É esquisito estar no Metropolitan. Eu, que ia tanto lá copiar as obras e treinar desenho".
Segundo a Estudante de Jornalismo, Tatiana Carvalho, de 36 anos, as obras são diferentes de tudo o que ela ja viu. Ela se refere ao trabalho do artista como "um trabalho feito de alma e coração".
A trajetória de Vik também provoca espanto. Logo que chegou a Nova York, com visto de turista, não imaginava viver de arte. Tinha deixado a faculdade para estudar inglês em Chicago, onde morava uma tia. "O que me levou a ficar nos Estados Unidos foi a energia de Nova York. É uma São Paulo mais bonita", compara. Naquela época, ainda não sabia o que queria da vida. "Sempre gostei de ciências, psicologia, teatro, pintura, história da arte, mídia e fui levando esses interesses até que veio a idéia de reunir tudo num formato só: a escultura". Nos primeiros anos em Nova York, fez um pouco de tudo: foi atendente de posto de gasolina, pintor de parede, guarda-noturno e até garçom, como seu pai, que segue firme no ofício até hoje em São Paulo. A mãe é telefonista aposentada.
O artista plástico começou a nascer quando Vik se matriculou no curso de Direção de Arte na Universidade de Nova York. Ao mesmo tempo, desenhava bichinhos para uma fábrica de roupas de criança e restaurava molduras e pinturas. Alugava um estúdio no Bronx. Foi no bairro negro nova-iorquino que começou a esculpir. Até que um dia suas esculturas chamaram a atenção de dois renomados críticos de arte, amigos de um amigo. Apareceram os primeiros convites para exposições e foi ganhando fama.
As fotos-esculturas de Vik Muniz estão cotadas entre US$ 5 mil e US$ 35 mil.Ele trabalha e mora em um enorme estúdio em um antigo prédio industrial no bairro do Brooklyn. Divide o espaço com a namorada, a também artista plástica brasileira Janaína Tschape. A divisão é literal. Cada um tem seu apartamento, com cozinha e banheiros separados. "Temos duas casas no mesmo prédio, já que somos dois artistas morando juntos e ambos precisam ter o seu mundo." O filho de 12 anos, Gaspar, vive no Rio com a mãe, a maquiadora Maria Lúcia Mattos. O garoto nasceu em Nova York, mas a mãe preferiu criá-lo no Brasil. Para aumentar a conexão com o país, Vik pensa em abrir um bar em São Paulo em sociedade com o pai. "Um boteco onde se possa tomar cerveja olhando para as obras de arte de grandes artistas brasileiros e estrangeiros".Vik Muniz será uma das atrações nas paredes e atrás do balcão.

Retrospectiva com 131 obras do artista plástico
Vik MunizRealização e coordenação: Museu Inimá de Paula e Aprazível Edições e Arte
Veja um pouco do trabalho do artista: